O “trabalho” na Ordem Maçônica tem um significado profundo e essencial dentro da instituição, sendo uma das práticas mais valorizadas pelos seus membros. Ele representa o esforço contínuo de aperfeiçoamento pessoal, social e espiritual, a maçonaria, independente de Rito que o maçom pratica, é marcada pela busca do conhecimento e a construção de um ser humano mais consciente e virtuoso. Neste contexto, a importância deste chamado trabalho se manifesta de diversas formas, tanto no desenvolvimento individual quanto na contribuição para a coletividade. Porém no Rito Escocês Retificado, o “trabalho” tem um conceito mais profundo e muito mais amplo.
Quando falamos sobre um rito minoritário como o RER, o trabalho maçônico adquire uma dimensão ainda mais singular, pois ele preserva tradições específicas, muitas vezes menos conhecidas, que enriquecem o patrimônio simbólico e espiritual da Maçonaria. Nosso Rito oferece perspectivas únicas em sua doutrina que a torna muito diferente das correntes majoritárias, o RER tem especificidades e demandas muito próprias que o tornam muito difícil de ser praticado, demandando de seus praticantes muito mais estudo, dedicação e empenho, muito além da simples jornada do maçom como construtor do seu próprio templo interior.
Invariavelmente o trabalho maçônico regular se dá em várias dimensões: autoconhecimento e crescimento pessoal, porém o RER incita o maçom a se conhecer melhor, a refletir sobre suas ações, pensamentos e comportamentos. Esse processo é constante e exige disciplina e dedicação, e é ai que ele se torna um rito difícil de ser praticado. Vemos no Rito Escocês Retificado um simbolismo e uma tradição mais que centenária através de seus rituais fieis desde a sua criação no século XVIII, em seus paramentos que refletem época além de símbolos e alegorias que abominam temas como a vingança. Os maçons retificados relembram regras que contem condutas morais, espirituais e transcendentais que o obrigam a gerar em si mesmo fatores transformadores. Cada regra maçônica o impulsiona a prática diária de aperfeiçoamento religiosa, doutrinária e até mesmo social. No RER a cooperação e a fraternidade vão além do corporativismo. Se o RER não foi capaz de mudar a visão profunda de seu obreiro, ele não está sendo praticado de forma correta e desejável. O trabalho retificado também é realizado além da beneficência material e auxilio caritativo, na Ordem Interna a caridade espiritual deve ou pelo menos deveria ser tão importante quanto cuidar das necessidades materiais dos desafortunados.
Mas porque seria então importante a existência e a pratica de um rito que não é e nunca será numericamente representativa no Brasil? Esta é uma questão importante. O Rito Escocês Retificado, embora menos difundido, possuem uma riqueza simbólica, espiritual, doutrinária e cavalheiresca e um cristianismo não sectário e não dogmático que o torna de grande importância e de elevadíssima relevância intelectual. Somos realmente pequenos, mas como guardiões de tradições e ensinamentos centenários, somos a maçonaria viva de tempos passados e imemoriais, porque preservamos tradições únicas, e doutrinas de relevância transcendental. O RER tem em sua doutrina e filosofia a preocupação com a elevação não somente de seus membros, mas da humanidade em geral.
Como um rito cristão focado na filosofia primitiva do Cristo, há um foco mais intenso nos valores tão caros ao Ocidente, o que pode proporcionar ao buscador sincero uma busca espiritual mais densa e profunda.
O RER realiza um trabalho fundamental de ligação entre o passado e o futuro da maçonaria mundial, ao praticar e manter viva sua tradição espiritual verdadeiramente Templária. Roger Dachez (LA CHAÎNE D’UNION n°45 – Juillet 2008) publicou em 2008 um texto que tomaremos emprestado um pequeno extrato para elucidar algumas questões : Ao estudar rituais ou frequentar as sessões de suas lojas, rapidamente percebemos a exigência ética e espiritual do R∴E∴R∴: desde o seu primeiro grau, que torna cada candidato um “Buscador, um Perseverante e um Sofredor”, ou ainda no segundo, que o convida com um ritual imperioso a “ver-se como ele é”, para nos limitar-nos apenas a estas preliminares. No final do século XVIII, ele (o RER) já representava uma corrente maçônica hostil ao aspecto puramente convivial e festivo, desvio de uma Maçonaria que esqueceu de trabalhar em profundidade; no início do século XX, como recordamos, ele foi o primeiro a reivindicar esta orientação, sem nega-la aos outros…. Certamente estas poucas linhas mostram uma diferença representativa do que é o RER em relação as suas características. O RER que é conhecido como a joia da maçonaria é também uma das pedras angulares de uma tradição, é um rito minoritário sim e sempre o será, mas manteve e continuará mantendo uma importância especial como guardião de tradições menos conhecidas, mas igualmente valiosas, que contribuem para a pluralidade e a riqueza simbólica da nossa instituição. Esse trabalho exige não apenas dedicação e estudo, exige um nível de maçonaria operativa, espiritualizada além de um elevadíssimo compromisso com a preservação e transmissão de um legado espiritual transmitido de pessoa a pessoa e trabalhando pela reintegração da humanidade ao seu lugar de direito e a sua origem gloriosa.
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