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Visão cristã primitiva de Orígenes de Alexandria

A comparação entre a visão cristã primitiva de Orígenes de Alexandria e a visão cristã da maçonaria do (RER)

A comparação entre a visão cristã primitiva de Orígenes de Alexandria e a visão cristã da maçonaria do Rito Escocês Retificado (RER) revela diferenças significativas em termos de teologia, espiritualidade e a função do indivíduo na busca pelo Divino. Embora ambas as tradições compartilhem elementos de uma espiritualidade esotérica e uma visão do ser humano como parte de um plano divino maior, seus contextos históricos, objetivos e doutrinas diferem amplamente. Abaixo estão os principais pontos de comparação:

1. Cosmologia e Visão de Deus

  • Orígenes de Alexandria: Orígenes tinha uma visão cristã teocêntrica, em que Deus é o Criador supremo, transcendente, e a fonte de toda a criação. Ele concebia o universo como parte de um plano divino, no qual as almas caídas se afastaram de Deus e a criação existe para possibilitar seu retorno. Orígenes acreditava que o Logos (Cristo) era o mediador entre Deus e a criação, sendo inferior ao Pai, mas ainda divino. Ele enfatizava a existência de múltiplos mundos e estados espirituais, com a salvação universal (apocatástase), na qual, no final dos tempos, todas as almas seriam restauradas à comunhão com Deus.
  • Rito Escocês Retificado (RER): No RER, a visão de Deus é teísta, mas expressa dentro de um sistema mais sincrético e esotérico. A maçonaria, em geral, não é explicitamente cristã, embora o RER seja um ramo que tenta conciliar o cristianismo com a tradição maçônica. Deus, conhecido como o “Grande Arquiteto do Universo”, é visto como o princípio criador e ordenador. A ênfase está no simbolismo de Deus como construtor e na busca pelo aperfeiçoamento moral e espiritual do homem, com uma visão de Deus que, embora monoteísta, é mais aberta a interpretações simbólicas e filosóficas, sem se prender à teologia ortodoxa cristã.

2. A Salvação

  • Orígenes de Alexandria: Orígenes defendia uma visão otimista e universalista da salvação. Ele acreditava que, por meio de Cristo, todas as almas eventualmente seriam restauradas à comunhão com Deus, incluindo até os demônios e Satanás. Orígenes sustentava que o processo de salvação era longo, envolvendo múltiplos estágios de purificação e ascensão espiritual. Ele acreditava que a alma humana, criada por Deus, tinha a liberdade de escolher entre o bem e o mal e que, no final, a misericórdia divina prevaleceria sobre a justiça punitiva.
  • Rito Escocês Retificado (RER): A visão da salvação no RER é simbólica e ligada à ideia de “reintegração”. Embora o RER tenha uma inspiração cristã, a ideia de salvação não é tratada como uma doutrina teológica formal, como no cristianismo ortodoxo. O conceito de reintegração refere-se ao retorno do homem ao estado original de pureza e perfeição espiritual, antes da queda no pecado. Para os maçons do RER, esse processo ocorre por meio da busca de sabedoria, da prática da virtude e do autoconhecimento. Embora não se fale explicitamente de salvação nos mesmos termos que no cristianismo, a meta do aperfeiçoamento moral e espiritual tem paralelos com a ideia de redenção.

3. Natureza Humana

  • Orígenes de Alexandria: Orígenes acreditava na preexistência das almas, que, segundo ele, foram criadas puras, mas caíram de sua posição original ao escolherem se afastar de Deus. A vida humana na Terra era vista como uma oportunidade para corrigir essa queda e retornar a Deus por meio da purificação e do arrependimento. Ele via a natureza humana como dividida entre o corpo físico e a alma espiritual, com o corpo servindo como um meio temporário para a alma se redimir.
  • Rito Escocês Retificado (RER): No RER, a natureza humana é vista de maneira simbólica e iniciática. O ser humano é considerado um microcosmo dentro do macrocosmo da criação divina. O homem é visto como um ser caído que busca retornar à sua condição original de pureza, mas essa visão está mais ligada ao aperfeiçoamento moral e espiritual por meio do conhecimento esotérico e da prática da virtude, do que a um processo teológico de salvação em sentido estrito. O simbolismo maçônico do RER vê o homem como um “pedra bruta” que deve ser esculpida e transformada em “pedra cúbica” ou “pedra perfeita” por meio do trabalho interior.

4. Cristologia

  • Orígenes de Alexandria: Orígenes tinha uma cristologia elevada, acreditando que Cristo era o Logos eterno, mas subordinado a Deus Pai. Ele via Cristo como o mediador entre Deus e os homens, aquele que possibilitava a salvação das almas caídas. A encarnação de Cristo era fundamental para o plano de redenção, sendo o meio pelo qual Deus resgatava a criação. No entanto, sua ideia de subordinacionismo (Cristo sendo inferior ao Pai) foi rejeitada posteriormente como herética.
  • Rito Escocês Retificado (RER): O RER incorpora elementos cristãos em seu simbolismo, mas a cristologia não é o foco central. Embora haja referências a Cristo como um exemplo moral e espiritual a ser seguido, a ênfase do RER está no desenvolvimento espiritual do indivíduo através da prática da virtude e do simbolismo maçônico. Cristo pode ser visto como o “Grande Mestre” no contexto moral e espiritual, mas o RER não adota uma cristologia ortodoxa. Ele foca mais na figura de Cristo como arquétipo de perfeição do que no papel de Salvador, tal como é entendido no cristianismo tradicional.

5. A Função da Igreja e da Tradição

  • Orígenes de Alexandria: Orígenes valorizava a Igreja como uma comunidade espiritual de crentes, mas ele tinha uma forte tendência mística e alegórica em sua interpretação das tradições cristãs. Para Orígenes, a verdadeira Igreja era espiritual, a comunidade dos eleitos, e não necessariamente uma instituição hierárquica rígida. Ele também valorizava o ascetismo como uma forma de vida cristã, acreditando que a purificação espiritual era necessária para o retorno à comunhão com Deus.
  • Rito Escocês Retificado (RER): O RER não vê a Igreja como instituição da mesma forma que o cristianismo ortodoxo. A maçonaria, como um todo, é uma fraternidade iniciática que busca o aperfeiçoamento espiritual do indivíduo através de ritos, símbolos e ensinamentos esotéricos. O RER, especificamente, embora tenha um forte componente cristão, enfatiza uma espiritualidade mais individualista e simbólica, em vez de seguir uma tradição religiosa organizada. Não há uma função de “Igreja” no sentido de uma instituição religiosa, mas sim de uma “ordem” que facilita o caminho para a iluminação espiritual.

Conclusão

A visão cristã primitiva de Orígenes de Alexandria e a visão cristã da maçonaria do Rito Escocês Retificado compartilham certos aspectos esotéricos, como a ênfase no simbolismo, na busca espiritual e na purificação da alma. No entanto, não podemos considerar o Regime Retificado uma cópia fiel do pensamento de Origenes, dado que há determinadas divergências em sua teologia e em sua compreensão da natureza de Deus, da salvação e do papel de Cristo. Orígenes, com sua forte teologia cristã e misticismo alegórico, está firmemente enraizado no cristianismo primitivo, enquanto o RER, embora influenciado pelo cristianismo, é uma forma de espiritualidade esotérica, sincrética e simbólica, que combina ensinamentos cristãos com tradições iniciáticas maçônicas

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