Os fundadores do Rito Retificado quebraram a coerência da Maçonaria francesa. Eles não respeitaram estruturas sutis, mas essenciais, que subentendiam a sua disposição centralizadora. Daí resultou a impressão de suavidade que exala da Loja Retificada e que impede a sua imediata apreensão. É claro que o R∴E∴R∴ conserva todos os símbolos maçônicos tradicionais, colunas, luzes, joias … mas a sua articulação em estruturas ternárias com significados definidos, em boa medida, vira fumaça, e assim é perdida.
Longe de alcançar o equilíbrio entre duas dimensões- salomônica e espacial- de um lado, e – trinitária e temporal – do outro, o R∴E∴R∴ as confunde de maneira complicada de tal modo que, perdido neste “imbróglio”, o Maçom não consegue mais separar uma dimensão da outra.
Assim procedendo, o R∴E∴R∴ privilegia a mensagem véterotestamentária (antigo testamento) em detrimento da mensagem trinitária. Daí a descristianização da Maçonaria azul (o que é, no mínimo, paradoxal, para um rito expressamente cristão) e justifica a frase do quarto grau: “Tudo o que vistes em nossas Lojas se baseia unicamente no Velho Testamento”.
Esta interpretação não é arbitrária. O próprio Willermoz a explica em uma carta:
“ Não podeis negar que os três primeiros graus não podem apresentar mais do que emblemas e símbolos … além disso, eles se baseiam no Templo de Jerusalém”, ou no Antigo Testamento, que é baseado na lei escrita da religião revelada, que sucedeu à lei ou religião naturais, as quais são simbolizadas em nossas Lojas pelas duas colunas do Átrio. Era tudo o que os filósofos maçons de então podiam “conhecer”. (carta enviada a B. de Turkheim a 08 de junho de 1784, in R. T. nº 26.p. 285. 1978).Daí se conclui que, para Willermoz, a descristianização da Loja azul aconteceu naturalmente. Na verdade, ele não se tinha apercebido do profundo sentido da Maçonaria francesa que ele tinha recebido! O R∴E∴R∴ é uma testemunha privilegiada do desenvolvimento das características “Escocesas”, que propiciaram o afastamento da tradição operativa, preservada no Rito Moderno Francês. Lembramos:
1) a fusão das Colunas e das Luzes
2) a dicotomia das Colunas-Luzes e das colunas J e B.
3) a assimilação da Loja ao próprio Templo (a partir da disposição “escocesa” das colunas-luzes à volta do Tapete) e o seu corolário:
4) a “dupla inversão” do Templo.
5) A importância dada à Espada, em detrimento dos instrumentos de trabalho do Maçom.
6) E, finalmente, a descristianização de fato da mensagem maçônica pela ocultação de seu sentido.
Estamos também conscientes de que o afastamento da tradição operativa, bem como a exaltação dos valores cavalheirescos (a Espada) e sacerdotais (o Templo) conduziram naturalmente à Ordem Interior (graus de cavalaria). A recepção no grau de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa, 6º grau do rito, não pode ser compreendida senão como uma dupla iniciação, cavalheiresca e sacerdotal, característica que este grau partilha com outros ritos que foram apresentados mais tarde.
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