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A Contribuição Filosófica de Louis Claude de Saint Martin no Rito Escocês Retificado

Louis Claude de Saint Martin1, conhecido como o “Filosofo Desconhecido”, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento do Rito Escocês Retificado (RER). Sua contribuição filosófica influenciou não apenas a estrutura e os rituais do RER, mas também a compreensão esotérica e mística dentro da Maçonaria. Neste texto, exploraremos a vida e o pensamento de Saint Martin, destacando sua relevância no contexto do Rito Escocês Retificado. 

Nascido em 1743 na França, emergiu como uma figura central no movimento teosófico do século XVIII. Influenciado por correntes esotéricas bem claras, Saint Martin buscou uma síntese entre a tradição cristã, a filosofia hermética e a mística judaica. Sua busca pela verdade espiritual o levou a ingressar na Maçonaria especificamente na Ordem dos Cavaleiros Ellus Cohen do Universo, onde encontrou um terreno fértil para compartilhar suas ideias e moldar futuramente a trajetória do Rito Escocês Retificado. 

Com razoável certeza, foi com a influência de Saint Martin proveniente de seu profundo conhecimento do pensamento de seu Mestre Martinez de Pasqually – de quem foi secretário, que o RER se tornou um veículo para a transmissão de ensinamentos esotéricos e místicos. A filosofia do RER, inspirada pela teosofia de Saint Martin, passou a destacar a busca interior, a transformação espiritual e a conexão direta com a divindade como elementos essenciais. 

Saint Martin introduziu seus pensamentos e teses no Rito Escocês Retificado, que antes tinham uma inclinação somente templária 2 oriunda da Estrita Observância3 da qual fez parte. A inclusão de elementos teosóficos, como a busca da gnose e a interpretação esotérica dos Evangelhos, enriqueceu a experiência maçônica retificada e proporcionou aos membros do RER uma plataforma para aprofundar sua compreensão dos mistérios divinos. 

O legado de Louis Claude de Saint Martin perdura no Rito Escocês Retificado e em muitas correntes teosóficas modernas, inclusive no Martinismo. Sua abordagem eclética e seu desejo de buscar a verdade além das fronteiras dogmáticas continuam a inspirar maçons que buscam uma jornada espiritual mais profunda. 

Vamos dar um exemplo muito claro, no ritual de recepção do grau 1, há uma instrução moral para o grau de aprendiz com a explicação do cerimonial, e em determinado ponto o texto cita os três estados do candidato, e que estes estados estão ligados ao homem de desejo. Este conceito “homem de desejo” faz parte do arcabouço teórico de Saint Martin que consiste de três estágios do homem frente a reintegração a saber: homem da torrente, homem de desejo e novo homem – vamos explorar um pouco mais estes conceitos bem característicos da obra do filósofo desconhecido: 

Homem da Torrente: 

Saint-Martin descreve o “Homem da Torrente” como aquele que está imerso nas correntes do mundo material, preso às influências externas e às demandas da vida mundana. Esse estado é caracterizado pela falta de consciência espiritual, uma existência onde a alma é submergida pelos tumultos e distrações do mundo. É um retrato do homem distante de sua verdadeira natureza espiritual, perdido nas correntezas da vida cotidiana. 

Homem de Desejo: 

O “Homem de Desejo” representa o estágio intermediário na jornada espiritual. É aquele que despertou para a busca interior, reconhecendo a presença de um desejo mais profundo e espiritual. Este estágio envolve uma consciência crescente das aspirações espirituais, uma vontade de transcender as limitações do mundo material e uma busca ativa por compreensão e significado na existência. O Homem de Desejo está empenhado na busca espiritual, mas ainda está sujeito às influências do mundo material. 

Novo Homem: 

O conceito do “Novo Homem” representa o ápice da jornada espiritual, a transformação completa do indivíduo. É a realização da união entre a natureza humana e a Divina, marcada por uma consciência elevada e um despertar espiritual pleno. O Novo Homem transcende as limitações do ego e do mundo material, alcançando um estado de harmonia e unidade com a Divindade. Este estágio implica em uma completa transformação interior, uma metamorfose espiritual que permite ao indivíduo viver em consonância com os princípios espirituais mais elevados. 

Esses conceitos refletem como já afirmamos, a visão de Saint-Martin sobre a jornada espiritual do ser humano e que é dada como exemplo no próprio ritual, bem assim como por diversos escritores retificados, que vão desde a imersão nas preocupações materiais até a busca ativa por uma conexão mais profunda e, finalmente, à realização espiritual plena. A compreensão desses estágios orienta, portanto, os franco maçons em sua jornada em direção à reintegração completa e estes conceitos são tipicamente de Saint Martin. 

O desconhecimento dos Retificados Brasileiros da obra e da contribuição de Saint Martin tanto na criação do RER quanto na filosofia do Regime, leva consequentemente a ignorância da sua importância no pensamento Retificado. 

(1) O Conde Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803) foi um filósofo, místico e escritor francês, conhecido por seu papel na tradição esotérica e por ser um dos principais expoentes do movimento conhecido como Martinismo.Saint-Martin nasceu em 18 de janeiro de 1743, em Amboise, França, em uma família de classe média. Ele recebeu uma educação clássica e, durante sua juventude, estudou teologia e filosofia.Carreira Militar:Aos 18 anos, Saint-Martin ingressou na carreira militar, servindo no 

exército francês. Ele participou da Guerra dos Sete Anos, na qual adquiriu experiência militar.Após uma série de experiências e crises pessoais, Saint-Martin passou por um despertar espiritual significativo em meados da década de 1770. Ele começou a se interessar por assuntos esotéricos, místicos e filosóficos. Em 1771, Saint-Martin conheceu Martinez de Pasqually, fundador da Ordem dos Cavaleiros Maçons Eleitos Cohen, Saint-Martin tornou-se um membro ativo dessa ordem, chegando a ser o principal secretário de Pasqually, envolvendo-se profundamente nas práticas teúrgicas e esotéricas. Ele começou a escrever extensivamente sobre suas experiências espirituais e suas ideias filosóficas. Suas obras mais conhecidas incluem “O Homem de Desejo” e “O Ministério do Homem-Espírito”. Saint-Martin desempenhou um papel crucial na disseminação dos princípios martinezistas, que incluem a busca da união com o divino, a transmutação interior e a ênfase na consciência espiritual. Devido a divergências dentro da Ordem dos Cavaleiros Maçons Eleitos Cohen e a controvérsias envolvendo suas atividades esotéricas, Saint-Martin enfrentou conflitos internos e, eventualmente, foi exilado da ordem em 1790. Ele passou seus últimos anos na Suíça, afastado das atividades esotéricas públicas. Morreu em 13 de outubro de 1803, em Aunay-sous-Auneau, na França. O legado de Louis Claude de Saint-Martin perdura na tradição martinezista e do Rito Escocês Retificado , influenciando várias correntes esotéricas e filosóficas ao longo dos séculos. Seus escritos continuam a ser estudados por aqueles interessados em filosofia esotérica, misticismo e busca espiritual. 

(2) A Ordem do Templo de Jerusalém, também conhecida como Ordem dos Templários, foi uma ordem militar cristã fundada no início do século XII. A Ordem do Templo foi fundada por volta de 1119 por Hugo de Payens e mais oito cavaleiros. Originalmente, o propósito da ordem era proteger os peregrinos cristãos que viajavam para Jerusalém após a Primeira Cruzada. A ordem recebeu a aprovação papal em 1129, durante o Concílio de Troyes. O Papa Inocêncio II concedeu à Ordem do Templo o direito de usar a cruz vermelha como símbolo, simbolizando sua dedicação à defesa da fé cristã. Inicialmente, os Templários dedicavam-se principalmente à proteção de peregrinos e locais sagrados em Jerusalém. No entanto, ao longo do tempo, a ordem cresceu e expandiu suas atividades para outras áreas, incluindo atividades bancárias, tornando-se uma instituição financeira significativa na Europa medieval. Os Templários eram uma ordem militar altamente treinada, conhecida por seu estilo distintivo de combate e disciplina. Eles desenvolveram uma reputação formidável durante as Cruzadas. No século XIII, com o declínio das Cruzadas e mudanças políticas na região, a influência dos Templários diminuiu. Em 1312, o Papa Clemente V, pressionado pelo rei Filipe IV da França, suprimiu a Ordem do Templo. Muitos membros foram presos e acusados de heresia, resultando em processos e execuções. 

(3) O Rito Maçônico da Estrita Observância Templária foi uma forma específica de prática maçônica que surgiu no século XVIII, durante o auge do interesse pela Ordem dos Templários e suas lendas. A Estrita Observância Templária apresentou características únicas que a diferenciaram de outros ritos maçônicos contemporâneos. O rito foi influenciado pelas lendas e mitos associados à Ordem dos Templários, especialmente a ideia de que a ordem medieval teria continuado secretamente sob a forma de sociedades esotéricas. A história e os símbolos templários foram incorporados ao rito. A Estrita Observância Templária afirmava ter uma estrutura hierárquica baseada na suposta continuidade com a Ordem dos Templários. Dentro do rito, os graus maçônicos eram organizados de acordo com uma estrutura inspirada na hierarquia templária. Ao contrário de alguns ritos maçônicos que eram mais ecumênicos, a Estrita Observância Templária tinha uma inclinação mais explicitamente cristã. Elementos do cristianismo, em particular aqueles associados aos Templários, eram proeminentes. O rito enfrentou críticas e controvérsias, especialmente quando suas reivindicações históricas foram questionadas. As tensões internas levaram a disputas, e o rito eventualmente perdeu sua proeminência. No final do século XVIII, a Estrita Observância Templária já não era tão proeminente na maçonaria, e precisava de uma reforma, de uma retificação. A efetivação destas mudanças deu origem ao Rito Escocês Retificado. Importante observar que a Estrita Observância Templária foi parte de um período de intensa experimentação e diversificação na maçonaria europeia do século XVIII. Muitos ritos e sistemas foram desenvolvidos durante esse tempo, como já afirmamos o RER inclusive, alguns deles caíram em desuso à medida que a maçonaria evoluiu. O Rito Maçônico da Estrita Observância Templária é um exemplo desse fenômeno histórico. 

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