“Pessoalmente, admito que o livre-pensador e livre crente que sempre fui, ao entrar no Rito Retificado, não hesitei nem senti escrúpulos quando me foi pedido que declarasse professar o espírito do Cristianismo1, especialmente quando o Grande Prior acrescentou: “Este é o espírito do cristianismo primitivo, resumido na máxima: ame o próximo como a si mesmo”.
Alguns maçons retificados vão muito mais longe na sua concepção do Cristianismo, é verdade, mas esta anedota simplesmente nos lembra que o pluralismo extremo e a infinita variedade de interpretações têm sido, ao longo da sua história, a marca registrada do Cristianismo. Não vamos, portanto, lançar no debate maçônico um dogmatismo2 reverso do qual o próprio R∴E∴R∴ está isento.
Em 1744, em Paris, quando um candidato era iniciado, este aviso lhe era repetido três vezes durante a cerimónia: “Senhor, tenha cuidado, maçonaria é uma coisa mais séria do que pensamos.” Ecoando isso, e para terminar com uma nota agradável, poderíamos dizer hoje: “Tenha cuidado, o Cristianismo do R∴E∴R∴ é uma coisa mais complexa do que você pensa.”
Finalmente, a palavra “complexidade” seria talvez o denominador comum de todo o sistema retificado: história complexa, doutrina complexa, abordagem complexa. Complexo: como o universo, como a vida. E ainda assim tão simples: “basta três pequenos passos e já é uma aventura”…
O Cristianismo no RER não é o Cristianismo desta ou daquela Igreja cristã, não é e não pode ser isto, querer transformar o RER em filial de seita cristã, ou ainda filha de determinada igreja cristã é uma ignorância absoluta do que se trata nossa Tradição e nossa Filosofia.
(1) O “espírito do Cristianismo” refere-se aos princípios fundamentais, valores e ensinamentos essenciais que permeiam a tradição cristã não necessariamente religiosa. Esses elementos formam a base espiritual que guia o pensamento cristão e orienta a vida dos seguidores de Jesus Cristo. O entendimento do espírito do Cristianismo pode variar entre as diversas denominações e tradições cristãs, mas há elementos comuns que caracterizam essa espiritualidade. O espírito do Cristianismo é centrado no princípio do amor, conforme expresso nos ensinamentos de Jesus. A compaixão, a misericórdia e o amor ao próximo são valores fundamentais que refletem a essência da mensagem cristã. A crença na capacidade transformadora do perdão e da Providência Divina permeia a espiritualidade cristã. A fé é uma dimensão central do espírito do Cristianismo. Acreditar em Deus, em Jesus Cristo como Salvador e na importância da relação pessoal com o divino são aspectos fundamentais dessa espiritualidade. O espírito do Cristianismo enfatiza a busca pela justiça, a ética e a responsabilidade social. Os cristãos, especialmente aqueles ligados ao Rito Escocês Retificado, são chamados a agir de maneira ética, a lutar contra a injustiça e a promover valores que reflitam o Reino de Deus na Terra, inclusive e centralmente a Benemerência. A importância da comunidade cristã independente da sua origem ou igreja, do apoio mútuo e da solidariedade são características do espírito do Cristianismo Retificado. A ideia de que os cristãos são membros do corpo de Cristo e devem viver em unidade é central para a espiritualidade cristã. O espírito do Cristianismo é uma combinação complexa de princípios éticos, teológicos e espirituais que fundamentam a fé cristã. Ele guia a maneira como os cristãos entendem a Deus, vivem suas vidas e interagem com o mundo ao seu redor. Essa espiritualidade se manifesta de maneiras diversas nas diferentes tradições cristãs, mas a busca pelo amor, pela justiça, pelo sentido profundo da caridade e pela relação pessoal com Deus são elementos comuns que caracterizam o Maçom Retificado.
(2) Na visão cristã, o termo “dogmatismo” pode ser interpretado de várias maneiras, dependendo do contexto específico em que é usado. Aqui, vamos abordar duas perspectivas principais relacionadas ao dogmatismo dentro da visão cristã: O dogmatismo teológico refere-se à adesão rígida e inflexível a certas doutrinas ou dogmas dentro da teologia cristã. Isso implica uma aceitação inquestionável de determinadas crenças e uma resistência a qualquer forma de questionamento ou divergência. Embora muitas vezes associado a uma fé robusta e firme, o dogmatismo teológico pode limitar a abertura ao diálogo inter-religioso, intra-religioso ou a uma compreensão mais ampla das Escrituras.
Outra dimensão do dogmatismo na visão cristã maçônica está relacionada a atitudes flexíveis em questões éticas ou morais. Isso pode se manifestar na aplicação não rigorosa de certos ensinamentos éticos ou morais tão importantes dentro do Rito, levando a se considerar contextos específicos ou perspectivas éticas alternativas, o que é inaceitável, o Maçom Retificado deve ser modelo ético e moral e flexibilizações são excrecências intoleráveis.
O dogmatismo religioso pode ter várias consequências na vida retificada e na comunidade maçônica cristã em geral. Pode levar à intolerância, à falta de diálogo construtivo e à fragmentação dentro da fraternidade. Por outro lado, alguns argumentam que uma “flexibilização dogmática” como o uso de balandrau, utilização de música nos rituais, de incenso, e outras modernidades inconcebíveis no mundo Retificado atual é essencial para o crescimento da Ordem e da identidade local,
Estas visões dogmáticas antagônicas reforçam a proibição de discussões de aspectos religiosos e escatológicos por parte dos retificados, quer dentro das Lojas, quer fora delas. A não observância desta lei pode levar à exclusão ou marginalização de pontos de vista divergentes dentro da própria Ordem.
Qualquer interpretação pessoal, qualquer influência político-partidária dentro da Ordem é um escândalo. Para estes já existem ritos maçônicos mais adequados e que aceitam estas “flexibilizações” de forma pacifica.
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